Elle
é um filme instigante. Incômodo. A protagonista, Michéle (Isabelle Huppert) é
uma criatura antipática, que vive relações conflituosas com a família, no
ambiente de trabalho, com o amante (Christian Berkel), marido de sua melhor
amiga (Anne Consigny), e até com seu gato. É o tipo de mulher por quem você não
consegue se afeiçoar ou sentir solidariedade, nem mesmo depois que ela é
estuprada dentro de sua própria casa.
Ao
contrário do que se imagina numa situação dessas, Michéle não se fragiliza, não
planeja uma vingança, muito menos briga por Justiça. Fria da planta do pé à raiz do
cabelo, ela fala desse assunto com os amigos e com o ex-marido (Charles
Berling) com rara naturalidade. E pior: ainda desenvolve uma relação doentia com
o misterioso agressor, como se desejasse, no fundo, inverter as posições, e fazer dele o objeto do abuso.
O
diretor holandês Paul Verhoeven tem experiência com esse tipo de personagem,
basta lembrar a mitológica Catherine Tramell (Sharon Stone), de Instinto
Selvagem (1992). E ele vai pincelando sem pressa informações sobre formação dessa
personalidade tão controvertida, estimulando a curiosidade e o interesse do
público sobre sua personagem. E dá até uma explicação do motivo que poderia (em
tese) ter formado o caráter de Michéle: uma tragédia familiar de proporção
realmente épica.
Grande
nome do cinema europeu, ao lado da também francesa Juliette Binoche, Isabelle Huppert
tem aqui um dos melhores desempenhos de sua brilhante carreira, dando
credibilidade e consistência para essa mulher tão complexa. Indicada ao Oscar
de Melhor Atriz, ela merecia vencer, o que eu acho que não acontecerá. Mas não
importa. O que fica é mais um o registro de seu imenso talento e, finalmente, o
reconhecimento de sua importância em solo americano! Elle não é para qualquer
público! Mas quem se deixar envolver por essa história incrível ficará não
menos do que fascinado.
Vi um filme em que ela era a professora de piano...magnífica!!!
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