segunda-feira, 14 de março de 2016

Curti: O lindíssimo primeiro capítulo de Velho Chico

CURTI!




O primeiro capítulo de Velho Chico teve um Q de ...E O Vento Levou (1939). Principalmente pela última cena, com aquela trilha incidental linda, grandiosa, épica... E aquela fotografia cinematográfica de tirar o fôlego. Essa sensação me soa muito bem, por que o filme de Victor Fleming é simplesmente o meu favorito em todos os tempos. Encarnação (Selma Egrey) e Jacinto (Tarcísio Meira) – majestosos – poderiam ser Scarlett (Vivien Leigh) e Rhett (Clark Gable) envelhecidos, atormentados pelos fantasmas do passado e cegos pela manutenção do poder na região. Se Velho Chico continuará na toada do meu filme predileto, não sei. E espero que não, porque de um diretor criativo como Luiz Fernando Carvalho espero sempre uma novidade, mesmo dento da assinatura estética característica que ele imprime em todas assuas obras.
Da trilha sonora, repleta de clássicos do nosso cancioneiro, até a fotografia deslumbrante, passando pelos figurinos, e cenários e a excelente caracterização dos atores, não existem elogios suficientes para descrever a maestria técnica dessa produção. Que coisa mais linda, gente! E a abertura? Um primor!
A história foi apresentada com extrema simplicidade, dando oportunidade para o público entender que a luta política entre o Coronel Jacinto Sá Ribeiro e o Capitão Ernesto Rosa (Rodrigo Lombardi) ditará o tom da trama e se propagará por várias gerações. Já sabemos que Afrânio (Rodrigo Santoro) é o filho bon vivant do casal Sá Ribeiro, mas que terá de deixar a boa vida e as lindas curvas de Iolanda (Carol Castro) depois que o pai tem um pirepaque. E que, no interior, ele não terá saída a não ser incorporar todo o rancor e a ganância que domina a sua família. Vimos também o casal Belmiro (Chico Diaz) e Piedade (Cyria Coentro) sofrer com a seca do sertão e, em breve, eles se juntarão ao Capitão Rosa, na guerra contra os Sá Ribeiro.
Os atores, sem exceção, brilharam intensamente. Rodrigo Lombardi fez a gente esquecer o charme sacana do Alex, de Verdades Secretas (2015), e emocionou. Fabiula Nascimento, que vem emendando uma novela na outra, deu sobriedade e ternura à sua Eulália, criando uma personagem totalmente diferente das anteriores. Sem falar no talento de Chico Diaz, Cyria Coentro, Carol Castro Umbergo Magnani (Padre Romão) e os novatos Barbara Reis (Doninha) e Julio Machado (Clemente). Ainda faltam 23 capítulos para encerrar esta primeira etapa da história de Benedito Ruy Barbosa, escrita por Edmara Barbosa e Bruno Barbosa Luperi, e espero que todos eles mantenham o nível do primeiro.

A estreia de Velho Chico foi teatral demais? Foi! O ritmo por vezes foi lento? Também. E graças a Deus que foi assim, porque quando você foge do lugar comum e do rame-rame das novelas de sempre, obriga o povo a pensar e cria ótimas rodas de debate. Se o espectador vai embarcar nessa saga épica pelas águas do Rio São Francisco, só o tempo dirá. Eu já estou navegando.

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