Um dos projetos mais aguardados deste ano, a série Justiça começa a tomar forma com força total. Desde maio a minissérie vem sendo gravada em Recife, cidade que ambienta a trama. Dirigidos por José Luiz Villamarim, Cauã Reymond, Adriana Esteves, Deborah Bloch, Enrique Diaz, Vladimir Brichta, Luisa Arraes, Jesuíta Barbosa e Jéssica Ellen baixaram no Nordeste, fazendo tomadas em diversos pontos da capital pernambucana, como a praia de Boa Viagem, o mercado São José e o bairro de Brasília Teimosa. Jesuíta, que vive Vicente, foi o primeiro ator a entrar no set, um apartamento do colossal edifício Holiday, arquitetura conhecida na cidade. O cenário – da mobília aos utensílios – foi intocado, para se tornar um espelho da realidade.
Essa estética, que joga luz na crueza do que é real, verdadeiro, foi o caminho que Villamarim escolheu para contar a história, que traz a assinatura de Manuela Dias. Para isso, Fabio Rangel e Moa Bastsow, que assinam a cenografia e a produção de arte, respectivamente, realizaram uma extensa pesquisa de campo e visitaram uma lista enorme de endereços compatíveis com os perfis dos personagens. E esse processo se aplica a todas as áreas de produção: dos cenários até a pouca ou mesmo ausência de maquiagem dos atores, passando por um figurino simples, desprendido de glamour. Apesar de ter viajado com cinco caminhões abastecidos com equipamentos e material de produção, os profissionais da minissérie adquiriram muita coisa em Recife, como artesanato em cerâmica para compor os cenários que estão sendo feitos no estúdio e figurino, especialmente o de Fátima (Adriana Esteves).
A trama
Justiça não trata de leis ou processos jurídicos, mas sim do conceito de justo sob o ponto de vista ético e moral. Perdão e arrependimento são temas satélites dessa discussão, assim como a vingança. "Justiça e vingança são conceitos que se misturam o tempo todo, a depender do ponto de vista que olhamos para a questão”, conceitua Manuela. “Ninguém determina o destino de outra pessoa, a não ser ela mesma", completa a autora. Na obra, o formato e a história estão ligados. A minissérie vai ao ar de segunda a sexta, com exceção de quarta-feira.
Em cada dia da semana, uma história será contada. Todas as segundas, as pessoas acompanharão especialmente uma trama, às terças será a vez de um outro núcleo, e o mesmo para as quintas e sextas. Mas todas se cruzam e o público será um detetive, que vai desvendando e juntando as peças. "Temos quatro tramas muito fortes. O que mais me atrai é a possibilidade de realizar um trabalho brasileiríssimo, com aspectos dramáticos profundos, que podem me permitir realizar grandes cenas. Tudo o que acontece com os nossos personagens é muito intenso e demasiadamente humano. Isso é fascinante em Justiça, descreve Villamarim.
Além dos personagens viverem na mesma cidade, Recife, as histórias têm outra coisa em comum: quatro crimes ocorridos há sete anos. Crimes que mandaram para a cadeia seus culpados, inclusive aqueles que foram erroneamente condenados. A minissérie mostra a vida dessas pessoas a partir do momento em que conquistam a liberdade, quando já pagaram pelos crimes que os colocaram atrás das grades.
As histórias
Elisa (Débora Bloch) é uma professora que não consegue superar a morte da filha, Isabela (Marina Rui Barbosa). A jovem é assassinada pelo noivo, Vicente (Jesuíta Barbosa), num rompante passional após flagrá-la nos braços de um ex-namorado. Vicente cumpre sua pena, sete anos de reclusão, o que não acalma o coração desta mãe. Ela acredita que a única forma de fazer justiça é tirando a vida de Vicente e passa anos se preparando para resolver o problema com as próprias mãos. Ele, por sua vez, dorme e acorda na companhia do remorso e da culpa. Justamente por isso o ex-detento passa a ter um único objetivo na vida: conseguir o perdão de Elisa.
A vida simples de Fátima (Adriana Esteves) nunca mais foi a mesma, desde que Douglas (Enrique Diaz) e Kellen (Leandra Leal) se mudaram para a casa ao lado. Mãe de duas crianças e casada com Waldir (Angelo Antonio), Fátima vê o seu sossego acabar, quem diria, por causa de um cachorro. Dizem que os bichos são reflexos dos donos. Douglas é um policial machão e truculento. Kellen é sinônimo de confusão. O cachorro invade a casa vizinha inúmeras vezes até morder o pequeno Jesus (Bernardo Berruezo/Tobias Carrieres), filho de Fátima. Ela mata o cachorro e Douglas se vinga ao “plantar” drogas em sua casa. Fátima passa sete anos presa por tráfico de drogas. Livre, ela faz aquilo que julga ser o certo: recuperar o tempo perdido ao lado da família. Para ela, nada mais importa.
Amigas desde sempre, Rose (Jéssica Ellen) é a filha da empregada da casa de Débora (Luísa Arraes). Entre elas, não há distinção de cor, classe social ou quantidade de grana no bolso. As duas não dispensam uma diversão, que anda de mãos dadas com o frescor inconsequente tão comum à juventude. Em mais uma balada, Rose carrega nos bolsos as drogas que seriam consumidas pelos amigos. Rose não comercializa, apenas faz um favor ao grupo e se dispõe a buscar os entorpecentes no quiosque de Celso (Vladimir Brichta). O grupo é surpreendido por uma batida policial, mas somente Rose é revistada. Ela é presa sob o silêncio de Débora, que não tem coragem de dividir a culpa com a amiga. Rose fica enclausurada por sete anos. Quando coloca os pés na rua, resolve reencontrar a amiga. Ela não quer cobrar nada. Muito pelo contrário. Ela se dispõe a ajudar Débora, que se transforma em uma mulher fragilizada após sofrer um estupro. As duas resolvem encontrar o criminoso.
Maurício (Cauã Reymond) cede ao último pedido de sua esposa, a bailarina Beatriz (Marjorie Estiano), que suplica pela eutanásia. Beatriz está presa em uma cama, tetraplégica, após ser atropelada, bem no dia em que faria sua estreia como principal atração em um espetáculo de dança. Maurício põe fim à vida do grande amor de sua vida, e fica sete anos preso por esta razão. Quando conquista a liberdade, põe em prática seu plano de vingança. Tudo o que ele faz tem um motivo traçado, premeditado: acabar com Antenor (Antonio Calloni), o homem que atropelou Beatriz e fugiu sem prestar socorro.
Quebra-cabeça
Ano de 2009. Isabela e Vicente são namorados. Ele tem grana, é filho de Euclydes (Luiz Carlos Vasconcellos), dono de uma empresa de ônibus. Isabela é filha de Elisa. As duas moram sozinhas, mas dividem a companhia da empregada da casa, Fátima.
Fátima é casada com o motorista Waldir, que trabalha para Euclydes. Eles são pais de Jesus e Mayara (Letícia Braga/Julia Dalavia). Moram em uma casa simples, que fica ao lado do barulhento casal Douglas e Kellen. Ele é um policial de caráter duvidoso e vive dando umas “incertas” no quiosque de Celso. Quem também vive a frequentar o lugar são as amigas Rose e Débora.
Isabela e Vicente ficam noivos. Isabela acha que tirou a sorte grande, afinal o rapaz é endinheirado. Ou pelo menos era... O pai do rapaz, Euclydes, sofre um golpe de seu sócio, Antenor. Ele limpa a empresa e deixa os funcionários, como Waldir, sem pagamento. Antenor passa a mão na grana e foge. Na fuga, atropela Beatriz, esposa de Maurício. Ele é advogado de Euclydes e reconhece o homem que vai embora sem prestar socorro à sua mulher, uma bailarina que perde todos os movimentos de seu corpo.
Com estreia prevista para agosto, Justiça é uma minissérie de 20 capítulos escrita por Manuela Dias, com a colaboração de Mariana Mesquita, Lucas Paraizo e Roberto Vitorino. A direção artística é de José Luiz Villamarim, e a direção é de Luisa Lima, Walter Carvalho e Isabella Teixeira.
Adoro tudo que você escreve te acho shows
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